Olá pessoal,
Primeiramente gostaria de pedir desculpa a
todos pela demora nos posts, mas como professor e final de ano a coisa fica
muito apertada e o tempo que preciso para me dedicar acaba escorregando pelas
minhas mãos. Mas vamos continuar o diálogo com a Shirley.
“Para comentar essa sua afirmação, começarei pela
explicação que me pede sobre o que eu quis dizer com Deus não poder ser
sobrenatural.
Nesse contexto, penso no termo natural como sendo
origem. Você propõe que nossa origem seja Deus. Então, o estado natural
deveria ser Deus. Se o estado natural seria Deus, ele não poderia ser
sobrenatural.”
Não vou discordar de você, para mim seria
Deus não ser sobrenatural, na verdade deveríamos entendê-Lo com maior
naturalidade, porém quando falamos de ciência, restritos aos campos da
biologia, química e física, a hipótese Deus é descartada.
Um exemplo disso foi expressa pelo juiz
Jones do caso Kitzmiller versus
Distrito Escolar de Dover onde foi pronunciado:
“(...) a ciência
tem se limitado à pesquisa das causas naturais para explicar fenômenos
naturais. [...] O naturalismo metodológico é uma ‘regra básica’ da ciência da
atualidade, exigindo que cientistas busquem explicações no mundo ao nosso redor
baseando-se naquilo que podemos observar, testar, replicar e verificar.”
A questão é: Se Deus é o criador de tudo o
que conhecemos, incluindo as leis da natureza, seleção natural, tempo e tudo
mais que existe, como vou observar, testar, replicar e verificar a Deus? Deus é
o Criador do Universo e ão parte do Universo, então não tenho como estudar a
Deus usando uma metodologia naturalista.
Para deixar ainda mais claro o que quero
dizer com naturalismo aqui está seu significado retirado de um dicionário:
“Teoria filosófica sobre a existência única da natureza. Os naturalistas negam
a existência de Deus, de anjos e demônios, e são céticos em relação à
possibilidade de vida após a morte.”
Meditei a respeito do termo ‘fé’. Cheguei à conclusão
que não se aplica a mim. Embora até o momento a TE faça um sentido razoável
como explicadora da origem das espécies, não tenho confiança absoluta nela. Não
temos elementos suficientes que permitam estabelecer a TE como uma verdade,
como um fato. No tocante à origem daquilo que denominamos Universo, vejo a teoria
do Big Bang como uma possibilidade de explicação. Portanto, do meu ponto de
vista, a coisa mais lógica é concluir que não estamos em condições de fazer
afirmações peremptórias a respeito de nossas origens.
O termo “fé” é um termo religioso e por isso
vou colocar aqui rapidamente o que significa fé para um cristão: “a fé é a
certeza daquilo que esperamos e a convicção de fatos que se não veem,” (Hebreus
11:1)
Veja que fé não é alguma coisa sem
evidência, John Lennox em um debate com Richard Dawkins explicou bem a questão
do que é fé perguntando ao Dawkins como ele poderia ter certeza que sua esposa
o amava?
Um outro exemplo do que seria fé poderia ser
demonstrado da seguinte maneira. Se um policial ao me encontrar afirmasse que
minha esposa esta presa por ter cometido uma série de assassinatos eu diria que
ele esta errado e que minha esposa é inocente, sem ter nada a provar, mas pelo
convívio que tive com ela sei que jamais faria algo assim.
Nesse sentido todos nós temos fé, mas
poderia ir ainda mais longe. Pois quando tratamos de questões como: “De onde
viemos? Quem somos? Por que estamos aqui? Como devemos viver? Para onde vamos?”
As respostas que dará a cada uma destas questões é uma resposta de fé e todas
elas vão estar vinculadas com a sua cosmovisão do mundo.
Inclusive a afirmação de “que não estamos em
condições de fazer afirmações peremptórias a respeito de nossas origens” é uma
afirmação de fé, pois você só estaria considerando a biologia, física e a
química como detentoras de dar respostas verdadeiras descartando totalmente
campos como a filosofia e a teologia.
A ideia do criador, seja aquele em que você acredita,
seja outro tipo traz consigo a questão das origens desse hipotético criador,
num loop interminável.
A hipótese do ser eterno não é explicação adequada por
não termos condições de comprová-la e o critério da antiguidade da afirmação
não é válido. Seria possível começar a considerar a validade desta afirmação
apenas ‘se’ e somente ‘se’ desde o princípio dos registros arqueológicos fosse
constante a afirmação de que existe um único ser criador e que ele seria
eterno. Poderíamos considerar que uma tal afirmação, constante e invariável,
pudesse ter sido oriunda de um conhecimento privilegiado.
Vamos lá, quando me utilizei do argumento
cosmológico citei a Teoria da Relatividade de Einstein para sustentar uma das
premissas, porém com essa teoria poderíamos ir ainda mais longe. Einstein diz
que matéria, espaço e tempo passaram a existir simultaneamente. Portanto, como
todo bom físico reconhece, não existia tempo antes do universo. Portanto um
loop infinito onde não existe tempo é inviável, portanto o que quer que tenha
dado origem ao universo é atemporal, traduzido eterno, pelo simples fato da
causa do Universo não estar preso, como nós, ao tempo.
Esso é uma informação que coincide com a
mesma descrita sobre o Criador descrito
na Bíblia. E por fim, ainda que existe algo como um tempo imaginário, como
Stephen Hawk sugeriu, ainda que tenha admitido que isso é só na imaginação, e
nesse tempo imaginário alguém tenha dado origem a Deus, isso não descarta Deus
como criador do Universo. Seria como dizer que Henry Ford não inventou o carro
porque ele tinha pais, e seus pais outros pais e assim seguisse até a primeira
vida e avançasse para as forças naturais que deram origem a tudo.
A impossibilidade da existência do deus em que você
acredita está nos termos que o descrevem. Digamos que a teoria nunca é
verificada na prática.
Um ser perfeito gerando imperfeição resume bem a
essência do meu pensamento, já que entendo ser impossível isso. A menos que
você seja diferente dos demais, não me surpreenderia vê-lo argumentando em
favor do livre arbítrio caso em que me antecipo expondo o fato de que esse
livre arbítrio muitas e muitas vezes não chega a ter oportunidade de ser
exercido e considerando apenas o ser humano. Há imperfeições também no meio que
teria sido criado para nos abrigar
Aqui esta uma falácia costumeira. Você se
coloca na posição de Deus assumindo que no seu caso nunca deixaria a
imperfeição entrar na criação. Assumindo que Deus é onipotente e onisciente e
permitiu que o pecado (imperfeição) entrasse no Universo, isso pode significar
que deve existir um propósito para isso e não uma impossibilidade. Propósito
esse que poderia ser elevado demais para entendermos em sua plenitude, mas
ainda assim poderia ser compreensível e racional para nós, seres humanos.
A Bíblia não fala que o nosso meio é
perfeito, pois após o pecado entrar na criação, tudo foi contaminado pelo pecado.
E o que seria o pecado? Biblicamente a separação entre a criatura e Deus. Um
lapso, causado esse não por Deus mas pelo homem. Deus esta feliz com isso? Ele
é apenas um espectador do nosso mundo? Não, decidiu arrumar a casa e por isso
veio em forma humana... mas ai vamos começar a entrar em doutrinas e precisaria
detalhar mais ainda... devo fazer sso em um post futuro apenas com esse tema.
Sobre a diferenciação que você faz relativamente ao
deus em que acredita o que posso dizer? Os católicos terão o mesmo argumento,
igualmente as Testemunhas de Jeová, os mórmons, os batistas etc.,etc.
Ok, mas eles que defendam o deus deles, O
Deus da Bíblia, que condiz com a realidade que vivemos, esse eu defendo e mais,
digo que Ele é a única explicação plausível para o Universo, claro que para
isso vou usar muito e muitos posts.
Eu penso que se houvesse mesmo um ser criador tal como
descrito na religião cristã, a coisa mais lógica seria ele ter se manifestado
de maneira a que não existissem tantas “interpretações”. Aliás, isso entra em
conflito direto com a alegação de que ele não apenas teria o senso de justiça,
mas seria a própria.
Poderia ser essa uma saída, mas tiraria de
nós o direito de crer nEle. E seja como você preferir acreditar, vale lembrar
que Ele decidiu não utilizar-se desse recurso (por enquanto) e que Ele esta
disposto a usar o homem em uma obra de quatro mãos para a salvação da
humanidade.
Sei que existem muitas interpretações e
infelizmente isso vem mais por problemas (ideias) pessoais do que a
interpretação bíblica propriamente dita. Se pegar um bom manual de hermenêutica
bíblica e usar dois princípios básicos (Toda a Bíblia e Somente a Bíblia) tenho
certeza de que vai ver que não existem tantas interpretações assim e pelo
contrário, há muitas tradições humanas por ai.
Pensei que tinha esclarecido que não tenho preconceito
em que religiosos façam ciência. As primeiras universidades surgiram sob a
égide da igreja católica. O ponto não é esse.
É afirmar que descobertas cientificas podem provar a
existência de Deus.
A essência da ciência é fazer perguntas e aceitar o
engano, o erro. A assertiva “Deus existe”, para quem a aceita, não admite
engano.
Assim como você, também acredito ser
impossível provar a Deus cientificamente, pois existe uma limitação dentro da
ciência (me referindo apenas à biologia, física e química). Mas a afirmação
final que você faz ai (em cima) pode ser usada pelos dois lados.
EX: “A essência da
ciência é fazer perguntas e aceitar o engano, o erro. A assertiva ‘Deus não
existe’, para quem aceita, não admite engano.”
Aqui para mim esta o maior problema dentro
do campo da ciência, aceitar apenas uma das posições como verdadeira e ver o
resto como errado. Dawkins é ateu, vai fazer interpretações de dados como
qualquer ateu faria. Stephen Meyer é adepto da Teoria do Design Inteligente, e
vai interpretar como todo “teleologo” interpretaria. Já o Marcos Erbelin é
criacionista e vai interpretar os dados científicos sob a ótica divina. Porém
um não é mais cientista que o outro e todos merecem respeito, mas o contrário
do que a ciência realmente é, alguns cientistas dizem que o que não for
interpretado segundo a filosofia naturalista não é ciência, como se esses “cientistas”
pudessem de fato dizer o que é ou não é ciência.
Suponha que em algum momento no futuro a Teoria
Quântica e a Teoria da Relatividade Geral sejam invalidadas por outras
descobertas. Pois bem. Michael Keller recebeu um prêmio por afirmar que tais
teorias servem para provar a existência de Deus.
Haveria fortes resistências em se aceitar que as
teorias estavam erradas, mas no fim seria aceito. Já aconteceu muitas vezes
antes.
O que aconteceria com a existência de Deus
‘comprovada’ pelas teorias?
Ainda que sejam tidas como erradas as
teorias acima mencionadas, isso provaria que Deus não existe. Não! A maior
evidência da existência de Deus é a própria ciência existir.
Eu não creio em um Deus que a ciência
poderia explicar ou provar, mas creio em um Deus que explica o por que da
ciência conseguir explicar alguma coisa. Albert Einstein disse: “A coisa mais
incompreensível acerca do Universo é que ele é compreensível.”
Se fosse descoberto e comprovado que Deus existe, ou
algum outro criador, somente os fanáticos se recusariam a que isso fosse
publicado, mas fanáticos de qualquer causa, por óbvio, têm a própria crença,
sendo ateus das demais.
O seu “ateu com fé no naturalismo’ fazendo ciência não
existe. O que existe são cientistas fazendo uso daquilo que pode ser mensurado,
testado, falseado, vale dizer, os objetos da natureza. Deus pode ser mensurado,
testado, falseado? É então um exercício de inutilidade acusar um cientista de
não investigar o que não cabe nessas condições.
Quando um cientista encontra algo como o olho
e o estuda, ele observa que cada parte o olho é necessária para ele funcionar,
isso é o que alguns “pseudo-cientistas” como alguns ateus gostam de chamar, de
algo complexo e irredutível, o que presume inteligência, mas para manter a
hipótese da evolução viva, cientistas gastam milhões para tentar explicar como
em passos lentos isso poderia ter acontecido, porém sem provar que tenha de
fato acontecido daquele jeito.
Mas a mencionar que existe uma inteligência
por trás dos seres vivos é tido como falso. Então cientistas com a fé no
naturalismo lutam para manter uma única interpretação como “científica”, o que
é uma piada de mal gosto.
Ciência é a busca pela verdade. Seja ela
Deus, Shiva, Zeus ou o naturalismo, todos devem ter seu status como cientistas
e ter suas interpretações ouvidas. Se por acaso uma for achada em erro, deveria
ser descartada (sabemos que não é Zeus que faz os trovões), mas até lá um
mínimo de respeito dentro dos “campus” deveria ser respeitado.
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